“A mãe só chora. O peito dói, e ela diz que é a filha querendo mamar”, diz tia de bebê decapitado em BH

Publicado em quarta-feira, maio 10, 2023 · Comentar 


Foto Reprodução

Dez dias depois de perder a filha decapitada durante o parto, Ranielly Coelho não consegue andar e sofre com as dores decorrentes do procedimento.

Ela precisou levar 60 pontos para fechar os cortes abertos para o nascimento da bebê, no último dia 30 de abril, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. A irmã de Ranielly, Aryanne Santos, diz que tem se desdobrado para cuidar dela e da mãe, que viu toda a cena através de um vidro.

— Ranielly queria tanto essa menina. Ela ficou sete meses de resguardo para garantir que a menina nasceria bem. Mas, agora, de três em três horas, quando o peito dói, sai leite, e ela diz que é a filha querendo mamar. É a hora mais doída. Ela só chora. Está sem dormir e, quando dorme, acorda na hora que foi o parto chorando, dizendo que está ouvindo vozes. É uma situação muito complicada — afirma Aryanne.

Ranielly Coelho, deu entrada na unidade de saúde em 24 de abril, com 30 semanas de gestação. A equipe médica constatou que a gestante estava com pressão alta e decidiu interná-la. Em nota, o Hospital das Clínicas afirmou que o quadro de Ranielly piorou ao longo da semana e que a equipe de Medicina Fetal constatou “malformação pulmonar grave” do feto – um quadro “incompatível com a vida”. Com a gravidade do caso e a “inviabilidade” do feto, segundo o hospital, o parto foi induzido.

Aryanne conta que o cunhado e pai da criança também acompanhou o procedimento e chegou a ser chamado, pela médica responsável, para ver o rosto da filha.

— Ranielly já não estava mais aguentando fazer força, sentindo muita dor, e a médica pediu para fazer cortes para a saída do bebê. Aí a menina colocou a cabeça para fora. Foi a hora que ela chamou o pai para ver a criança. Meu cunhado disse que ela estava com a mãozinha do lado do rosto, mexendo os olhos, só que estava ficando roxinha. A médica disse que era falta de oxigenação. Como os ombros da menina não passavam, ela subiu em cima da minha irmã, mandou segurar braços e pernas e acabou puxando a cabeça dela. Meu cunhado viu a cena e ficou agressivo, minha mãe começou a gritar — relata Aryanne.

Aryanne conta que o cunhado foi retirado da sala, e a criança foi levada para um quarto anexo à sala do parto. Meia hora depois, a equipe médica retornou com o bebê já vestido e pediu para que os parentes se despedissem da menina.

— Eles já vieram com a menina embrulhada, com a roupinha tampando o pescoço. Disseram para a minha irmã que ela precisava se despedir da filha. Minha mãe [avó da menina] pegou no colo, tirou a roupinha e viu que o pescoço estava costurado — diz a tia da pequena, que recebeu o nome de Manuelle Vitória.

Avó dormiu na rua após presenciar parto

De acordo com Aryanne, a avó da criança ficou indignada com o tratamento recebido pela filha e pela neta. Aryanne diz que encontrou a mãe dormindo na rua um dia depois do ocorrido.

— Fui trabalhar, passei na rua em que ela mora e vi ela deitada na rua, dormindo. Ela já tem problemas psicológicos, mas isso piorou. Ela fica repetindo que viu o sangue espirrar. A gente tenta ficar de olho, cuidar dos parentes, mas a cena para eles não sai da cabeça — diz a tia do bebê.

A família contratou advogadas e acionou a polícia depois de receber um laudo de necropsia feito pelo hospital. Aryanne diz que se recusou a assinar o documento ao ler que o bebê havia morrido “no útero”. O corpo da criança foi levado para o IML. A Polícia Civil diz que não há prazo para a liberação do corpo do instituto porque o caso é de “grande complexidade e demanda estudos necroscópicos e laboratoriais detalhados”. Ranielly também passou por exame de corpo de delito e aguarda os resultados.

A polícia apura se houve possível homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A advogada da família diz que também vai buscar a condenação do hospital por violência obstétrica e pedir uma indenização na Justiça.

Aryanne afirma que a família só quer respostas.

— Eu quero justiça e que outras mães não passem por isso. Eu quero saber o motivo. Por que a médica puxou a cabeça? Ela desesperou? Ela errou? Eu quero uma resposta. E, dependendo da resposta, eu quero justiça — destaca ela.

Diante da acusação da família, o Hospital das Clínicas disse, em nota, que abriu um processo administrativo interno para apurar os fatos. A unidade ainda lamentou a morte do bebê.

“A equipe realizou todos os esforços para garantir a vida da gestante e está empenhado em esclarecer todos os fatos com transparência e agilidade”, diz a nota do hospital, que não comenta os relatos da família sobre a decapitação.

Redação/OSegredo

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