Brasil “Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”. Nietzsche
Faltando poucos meses para as eleições municipais, o cenário é desolador para o campo progressista.
É absolutamente realista considerar a hipótese de que PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL não elejam nenhum prefeito nas capitais. É possível vitórias em apenas duas ou três. Será motivo de grande comemoração.
No Sudeste, a esquerda pode não ir sequer ao segundo turno. No Sul, a única chance está em Porto Alegre. No Centro-Oeste, só uma “zebra”. No Norte, parece que só Belém ainda “respira”. No Nordeste, personagens de centro-direita ou bolsonaristas lideram as pesquisas em boa parte das capitais.
Perdida, dividida e envolvida numa guerra sangrenta pela hegemonia do campo, a esquerda parece não ter compreendido – ou se recusa a aceitar – o recado das urnas em 2018.
O eixo da política nacional foi empurrado para a extrema-direita, alterando o posicionamento de todas as peças no tabuleiro. De lá pra cá, o cenário mudou pouco.
Já passamos de 70 mil óbitos, alguém mais o deixará em função das mortes? A classe média que abandonou o barco vai pra onde? Marcha com Moro ou volta para os “vermelhos”?
Claro que o resultado da economia sempre pode desestabilizar o governo. Neste setor, os resultados de 2021 e 2022 serão piores ou melhores do que o desastre de 2020?
O capitão está reorganizando o seu governo. Trocou seus líderes na Câmara. Avançou no acordo com o Centrão. Está tentando estabilizar sua relação com o STF. Conseguiu calar por 20 dias seu principal opositor: ele mesmo. Arrefeceu a agenda ideológica e deu novamente centralidade à pauta econômica.
Não existe oposição com uma estratégia definida. Ainda estamos na fase de acordos pontuais em torno de questões específicas, importantes, mas insuficientes.
Com o risco de impeachment cada vez mais distante, quem será o principal adversário do capitão em 2022? A oposição liberal seguirá dividida entre Moro, Doria, Huck, Mandetta e outros? A convergência destes atores pode colocá-los no segundo turno contra o presidente?
A ressaca das eleições municipais será dura e educativa. Só uma reviravolta improvável, com a unificação das candidaturas progressistas, poderia mudar este quadro.
Tragédias têm o poder de provocar profundas reflexões. Costumam promover mudanças drásticas nas formas de ver e compreender o mundo.
Pelo amor ou pela dor, sua excelência, a realidade, sempre acaba se impondo. Nestas horas, nada fala mais alto que o instinto de sobrevivência. Ele vai gritar em 2021.
Da Redação
Com Pragmatismo Político/ Ricardo Cappelli