Leonardo Boff ao falar sobre a felicidade, no livro “Felicidade foi-se embora?”, afirma que “estar convencido de que as águas do mar, calmas e serenas, existem; mas elas estão na profundidade. Na superfície se levantam ondas revoltas que sacodem os navios mais seguros”. Nenhum cenário é tão revolto quanto ‘reportar’, mas também desafiador, envolvente e apaixonante.
Digo sempre que a maior recompensa de um jornalista é ver a matéria que ele produziu [reportou] sendo comentada, explorada, questionada no sentido de encontrar a devida compreensão daquilo que foi escrito. Não falo de encontrar a verdade, pois segundo Bakhtin “a verdade não nasce nem se encontra na cabeça de um único homem; ela nasce entre os homens, que juntos a procuram no processo de sua comunicação dialógica” (2008).
Foi nesse emaranhado de enunciados, reportagens, matérias e discussões que dediquei uma década de minha vida, seja no rádio, na web ou nos impressos. Não foi fácil, confesso. Mas alguém pensou que seria fácil? Não me engano com as coisas: eu sempre soube que expressar opinião é uma tarefa extremamente difícil, porque ela contraria interesses, desagrada quem pensa diferente.
Costumo dizer a meus colegas que quem deseja agradar a todos, termina não agradando ninguém e trabalhar no rádio me deu essa oportunidade de experimentar e compreender isso, porque muito mais que a experiência de vivenciar é compreender para poder fazer seu trabalho sem o sentimento de culpa daquilo que se diz. Repito: não é nada fácil e para superar isso é preciso equilíbrio emocional e psíquico.
Lá trás, no início, me ensinaram que as três coisas mais difíceis do mundo seria guardar um segredo, perdoar e aproveitar o tempo, mas nessa década de um cotidiano estressante dessa atividade profissional, percebi que pelo menos duas delas são possivelmente executáveis.
Na minha missão como jornalista ouvi deveras confissões, segredos que guardo até hoje em respeito ao sagrado sigilo da fonte, as vezes até revelei determinado fato, algo autorizado, mas nunca a fonte que me repassou a informação. Num mundo tão cheio de “versões”, confesso que não é fácil guardar o sigilo da fonte, por que a todo momento somos posto a prova. Nessa mesma linha digo que aquele que não consegue perdoar não pode ser livre, por isso, tento perdoar aqueles que não compreendendo a minha missão profissional muitas vezes me feriu, pois só assim me sinto mais leve e tranquilo para seguir caminhando.
Pe. Zezinho em sua canção “Pra que eu saiba perdoar”, fala um pouco sobre isso. Em determinado trecho, diz ele: “Por mil caminhos e a sorrir, eu procurei compreender, nenhum irmão eu quis ferir, eu só pensei em ajudar, mas houve quem não entendeu e destruiu o que eu ergui e arrancou o que eu plantei desafiando a minha paz […] Eu vim aqui pedir perdão, se por acaso eu mereci, sofrer tamanha ingratidão, quando eu busquei sempre ajudar. Mas quem não entendeu fui eu que se esqueceu quem foi Jesus, que fez um bem maior que o meu e mesmo assim morreu na cruz”. É com base nessa canção que suavizo os impactos da ingratidão e das incompreensões do dia a dia que esse trabalho também oferece.
Pois bem, esse foi o meu último artigo publicado no ExpressoPB na condição de Diretor dos veículos de comunicação do grupo, bem como na condição de colunista deste site. Um misto de emoção. Me despeço dos nobre leitores que durante uma década me deu a hospitalidade de sua leitura. Um novo capítulo deverá ser escrito pelas mãos de Deus. Até breve!
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Marcos Sales
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