Em Mari, fakes ameaçam servidores públicos, pressionam a aderirem a milícia digital e fazem política com reclames do povo

Publicado em domingo, junho 7, 2020 · Comentar 


“Vamos buscar três, quatro pessoas dentro do nosso grupo que saiba incomodar o Daniel. Três ou quatro pessoas que possam estar em boteco ou em ponta de rua soltando boato e fofoca. Porque o Daniel tem que desmentir e perder tempo naquilo. Não você. A cúpula da campanha, que está por cima, nem conhece. Baixa o retrovisor e esquece que tem concorrente. Vocês estão indo em uma viagem ao futuro de Capetinga, pronto”.

Esse diálogo gravado as escondidas é do então deputado federal Aelton Freitas (PR-MG). Nele Aelton ensina como se disputa uma eleição comprando votos e difamando adversários políticos durante a reta final das eleições de 2012 em Capetinga, no interior de Minas Gerais (Veja reportagem no Portal Terra sobre o assunto).

Na época, a velha raposa política orientava as pessoas a irem a porta de bar e ponta de esquina, se fosse hoje, oito anos depois, certamente o político mineiro não precisaria nem sair do lugar, bastaria possuir uma conta falsa em uma rede social para espalhar em questão de segundos, mentira, difamação e calunia contra seu adversário, no diálogo acima chamado de Daniel.

Desde que o ExpressoPB.net iniciou a série de reportagens sobre a existência de um grupo de militantes políticos que atuam na criação de perfis fake nas redes sociais na internet, idêntico a estrutura do “Gabinete do Ódio” que está sendo desmontado pelo STF em Brasília, a repercussão tem sido bastante relevante e tem chamado a atenção, inclusive de autoridades, que estão procurando se inteirar sobre o assunto, que apesar de ter uma abordagem local, não se difere da maneira de como agem as milícias digitais da capital federal com ramificação em praticamente todos os estados da federação, conforme afirma inquérito da Polícia Federal que investiga o caso.

Assim como em Brasília, a milícia digital mariense tem o objetivo de destruir a harmonia social, provocar um clima de guerra entre as instituições e poderes constituídos, mas o seu objetivo principal é a retomada do poder administrativo e governamental usando a mentira, a calúnia e a difamação como sua principal arma de atuação. Qualquer semelhança entre a orientação do então Deputado Federal Aelton Freitas com o “gabinete do ódio” de Mari é pura consciência.

Na primeira reportagem da série foi possível ter uma noção de como e quando essa “onda fakiana” começou, apesar de ela não ser tão nova assim, já ter sido percebida sua movimentação lá nos idos de 2011/2012 tendo como alvo os mesmos órgãos, instituições e personalidades de hoje. Setores da imprensa são os alvos principais da ação criminosa da milícia.

Na segunda reportagem, a abordagem expões a atuação da milícia digital para acuar os vereadores, o ataque a vida pessoal de populares através da disseminação de mentiras e difamação e a criação de narrativas conspiratórias para provocar confrontos entre integrantes de setores da sociedade.

Nessa terceira reportagem da série, a editoria do ExpressoPB.net vai apresentar uma outra linha de atuação da milícia digital: a ameaça velada, como forma de atrair mais militantes por meio do medo e da intimidação. Mas não só isso, pessoas do povo são usadas como “amuleto” de disseminação de ódio nas redes e marketing político negativo contra seus alvos.

Para construir esse trabalho de pesquisa o ExpressoPB.net continua a analisar cerca de 1 mil arquivos, postagens na rede social facebook, em um perfil denominado Mary Luna, criador das fake news responsável pela disseminação em outras dezenas de perfis fake do próprio facebook, mas em pelo menos 5 grupos de whatsapp e algumas dezenas de perfis no instagram.

O levantamento feito foi encomendado a terceiros, já que os alvos dos ataques fakes geralmente são bloqueados pelo perfil, para que as vítimas não tenham o direito de defesa e a mentira postada soe como verdade absoluta.

O gráfico a seguir, mostra o “FAKE MÃE” que teve seu embrião plantado a partir de 04 de janeiro de 2017, conforme já foi explicado na reportagem inicial da série. O perfil possui mais de 4500 seguidores, mas suas filiais têm outros tantos mais. Pelo menos, além do “FAKE MÂE”, mais outras dezenas estão intimamente conectados e funcionam como canais de reprodução de seus conteúdos e comentaristas das criações falsas lá postadas.

De lá, os comentários e as criações fakes com ataques e mentiras aos seus alvos são replicados nos grupos de whatsaap seja através de links ou prints, rede que também abastece perfis no instagram, todos criados com a finalidade de produzir fakes e fazer disparo em massa de difamação, achincalhamento, noticiais falsas e provocar a desarmonia social.

Apelo social para comover – O recrutamento para que mais pessoas integrem o “Gabinete do Ódio” acontece quase sempre através de busca nos perfis nas redes sociais. Basta observar uma insatisfação publicada na rede, um comentário contra a gestão ou uma crítica a um serviço público, que logo o fake Mary Luna envia convite de amizade, propõe conversa como forma de alimentar o discurso de ódio contra seus alvos.

Para fomentar a revolta e ódio nas pessoas, a narrativa construída é quase sempre a mesma: comparar a situação dificuldade de alguém, expor como marketing negativo e apresentar uma eventual situação confortável de outro que esteja integrado a gestão municipal. Nesses momentos eles exploram pontos comparativos para provocar a ira e ódio e sempre em torno de dinheiro.

Um exemplo claro pode ser visto nessa série de arquivos analisados, onde o fake expõe causas de apelo social, reclamações de populares não com o objetivo de resolver determinada situação, mas para persuadir quem o ler como forma de cooptar mais um militante para a causa política que a milícia defende. Nessa lógica quanto mais sofrimento, quanto mais angustia o cidadão sentir e provocar comoção social no outro, mas forte se torna a causa política do “Gabinete do Ódio”.

Ameaça a servidores –  Na lógica estrutural da milícia digital, ter um emprego em qualquer repartição pública do Governo do Estado é razão suficiente para que o servidor integre o referido gabinete. Se o servidor não desejar se expor com seu próprio perfil, a sugestão é que um perfil fake seja criado e administrado por esse servidor, segundo fontes ouvidas e que pediram sigilo absoluto temendo represália e perseguição dentro da repartição que trabalha.

O depoimento desse servidor está devidamente documentado através de mídia digital e guardado para eventual necessidade.

O servidor público estadual que se nega a aceitar a proposta de propagar as mentiras, comentar as postagens de outros e fazer suas próprias postagens são alertados publicamente pelo Mary Luna, como forma de intimidação.

Não foram poucas as vezes em que servidores foram alertados para se exporem nas mídias sociais e familiares seus expostos por se pronunciar em algum comentário favorável a gestão municipal.

Com mensagens esdrúxulas em que os funcionários são taxados de mudos e de falsos aliados, o fake faz alerta direta ao avalista dos cargos no estado, o ex-prefeito Marcos Martins e com isso tenta silenciar as vozes contrárias as suas.

Servidores públicos da esfera municipal também são ameaçados escancaradamente,  para se manterem calados, caso contrário podem sofrer represália das mais diversas, inclusive com insinuação de que podem ser acionados no Ministério Público.

O exemplo mais recente aconteceu com o Professor Josa, Editor do site O Farol PB, que recebeu ameaça velada da milícia digital, após  publicação de uma matéria em seu portal que desagradou o “Gabinete do Ódio”.

Parece que é uma sequência de ameaças para inibir qualquer tipo de comentário nas redes sociais e no caso específico do site, o cerceamento à liberdade de expressão sob pena de punir seu editor.

Se por um lado as pessoas são intimidadas a não comentarem atos positivos da gestão municipal, o ex-prefeito Marcos Martins e seus aliados recebem ‘tratamento vip’ por parte do fake Mary Luna, inclusive tem ocasiões em que o próprio fake fala em nome do ex-prefeito, explica situações que só o próprio Marcos deveria se pronunciar oficialmente, como é o caso da discussão sobre a escolha de um possível vice em uma eventual chapa encabeçada por ele nas eleições deste ano. A nítida e estreita relação entre eles fica explicita porque  assuntos extremamente particulares e de interesse do político são tratados pelo fake e não por Martins, conforme pode-se observar no infográfico a seguir.

O perfil fake ainda trata sobre adesões que o grupo do ex-prefeito Marcos Martins recebe, faz projeções e análises e serve de divulgador de matérias da ‘imprensa amiga’ quando se referem ao ex-prefeito, compartilhando uma dezena de vezes ao dia na página e servindo de base para a manada seguir compartilhando e comentando o conteúdo lá postado. Em contra partida, quando matérias negativas a respeito do ex-prefeito surgem na mídia logo uma série de mentiras e difamações são propagadas sobre adversários seus como forma de distrair a atenção da opinião pública.

Com esse clima de ameaça e linchamento público por parte de fakes milicianos e militantes políticos, com apoio de alguns setores da “imprensa amiga”, a sociedade mariense vive acuada, amedrontada, presa pelo medo de ver a qualquer momento mentiras sobre sua vida particular exposta nas telas de computadores e celulares do mundo inteiro, para tanto basta divergir do discurso feito pelo “Gabinete do Ódio”.

Na penúltima reportagem da série, a editoria do ExpressoPB.net vai expor como é tratada a ‘imprensa amiga’ pela milícia digital e seu mentor intelectual e como pretendem impor um projeto de poder a sociedade mariense tendo como base o ódio, a mentira, a intimidação e o medo.

Da Redação 
Do ExpressoPB

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