Estudante negro é despido e chicoteado após tentar furtar barra de chocolate

Publicado em quarta-feira, setembro 4, 2019 · Comentar 


Um jovem negro está amordaçado, sem camisa e com as calças abaixadas. Atrás dele há caixas de produtos e sacos com o que aparentam ser cebolas. As imagens continuam e um homem começa a chicoteá-lo.

“Não coloca a mão. Tira a mão, porra!”, grita o agressor. Essa cena foi gravada no supermercado Ricoy, localizado na avenida Yervant Kissijikian, na Vila Missionária, zona sul de São Paulo. A agressão foi justificada como castigo pelo rapaz ter tentado furtar um chocolate.

Segundo o boletim de ocorrência, a violência aconteceu no mês de julho, sem a vítima saber precisar a data. E., 17 anos, entrou no mercado, pegou um chocolate e tentou sair sem pagar, quando foi abordado por dois seguranças: Santos e Neto.

A dupla o levou para um quarto no fundo da loja, onde o vídeo foi gravado. “Ali, a vítima foi despida, amordaçada, amarrada e passou a ser torturada com um chicote de fios elétricos trançados. Permaneceu por cerca de 40 minutos, sendo agredido o tempo todo”, descreve o documento assinado pelo delegado Pedro Luís de Sousa, do 80º DP (Distrito Policial), localizado na Vila Joaniza.

Enquanto E. está amarrado praticamente nu, um dos homens aplica as chicotadas e o outro registra a cena. E. não soube descrever à Polícia Civil se outro funcionário do supermercado Ricoy presenciou o momento em que era levado pelos seguranças ou notou a tortura enquanto estava no quarto.

No vídeo é possível ouvir ameaças entre uma chicotada e outra. “Vai tomar mais uma. Nós vamos ter que te matar, moleque. Vai voltar? Você é corajoso”, grita um dos homens, apontado pela vítima como Santos, que teria ameaçado: “caso falar algo para alguém, vou te matar”. O rapaz foi liberado, mas não registrou oficialmente a tortura na época por ter medo de ser morto pelos dois.

Conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), o advogado Ariel de Castro avalia que o vídeo evidencia a prática de tortura. “Existem indícios contundentes de crime de tortura praticado pelos seguranças. A tortura ocorre quando alguém é submetido, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental. É um crime hediondo”, explica.

Segundo ele, que acompanhou a denúncia no 80º DP, o delegado intimou os suspeitos para prestarem depoimentos. Caso confirmada a prática do crime (lei 9.455 de 1997), estarão sujeitos a pena que varia de 2 a 8 anos de prisão.

Delegado fala em ‘covardia’

O delegado Pedro Luis de Sousa foi o responsável pelo inquérito. Ele afirmou que ficou comovido com o relato da vítima e ao ver as imagens apresentadas. “Como pode uma pessoa fazer isso com outra? Eu não consigo imaginar. Fiquei dez anos no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e não tinha visto algo assim tão triste”, afirmou.

“Toda aquela situação é deprimente. Foi uma agressão covarde, que me causou asco, me causou muita repulsa”, complementou o delegado. A polícia quer localizar os dois torturadores para pedir a prisão.

 

Da Redação 
Com Pragmatismo Político 

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