“A verdade fica doente, mas não morre”, diz Lula após vazamentos da Lava Jato

Publicado em terça-feira, junho 11, 2019 · Comentar 


Foto: ISABELLA LANAVE

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou “surpreso” com o “elevadíssimo grau de promiscuidade” na relação entre o ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, e os procuradores da força-tarefa da operação . A informação foi transmitida à imprensa pelo defensor José Roberto Batochio, que visitou o ex-presidente na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. “O presidente disse assim: ‘A verdade fica doente, mas não morre nunca’. Só não se esperava que ela se recuperasse tão rapidamente”, relatou o advogado.

“O presidente Lula ficou, evidentemente, bastante impactado pelo conteúdo desse material, mas, por outro lado, não é uma novidade. Ele também sempre afirmou que não está recebendo um tratamento imparcial, um tratamento que seja compatível com a Constituição e com as leis”, disse o outro advogado que representa Lula nos processos da Lava Jato, Cristiano Zanin Martins.

Segundo Zanin, a defesa do petista ainda está estudando qual será a estratégia a ser adotada a partir da divulgação das mensagens privadas trocadas entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador do grupo que atua em Curitiba. As conversas foram publicadas no último fim de semana pelo site The Intercept .

“Tratamos dos fatos novos que vieram à tona e que reforçam que o ex-presidente não teve direito a um julgamento imparcial e independente. São fatos que nós vamos utilizar para reforçar a nulidade do processo. Oportunamente nós apresentaremos isso”, disse Zanin.

Os dois defensores reforçaram que têm confiança no Supremo Tribunal Federal (STF) para conceder liberdade ao ex-presidente e anular o processo do caso do tríplex do Guarujá, no qual Lula foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, vindo a ser preso em abril do ano passado.

“Temos a expectativa de que o Supremo julgue os habeas corpus já pendentes, que citam, inclusive, a falta de imparcialidade do juiz da causa. Temos a possibilidade de levar fatos novos ao Judiciário”, afirmou.

“Segundo a Constituição Federal brasileira, nenhum julgamento é válido na esfera criminal se o juiz não for imparcial. Como o STF é o guardião da Constituição, nós estamos a aguardar a palavra do Supremo para que saibamos se a Constituição está ou não em vigor. A palavra está com o Supremo, que nunca falhou na defesa da Constituição do nosso país”, corroborou Batochio.

Zanin disse que os fatos mais graves vislumbrados pela defesa nas conversas entre Moro e Dallagnol são a “absoluta falta de imparcialidade e equidistância das partes”. “A acusação foi tratada de uma forma diferente da defesa, há claramente uma coordenação do juiz da causa em relação ao trabalho da acusação. E isso não é permitido”, reclamou.

As conversas divulgadas nesse domingo indicam que Moro teria atuado junto ao MPF, dando conselhos aos procuradores da Lava Jato, interferindo na ordem das operações da força-tarefa e até indicando fontes que pudessem incriminar os investigados.

Os procuradores também teriam tomado providências para que o ex-presidente Lula não desse entrevista antes das eleições, com medo de uma eventual vitória do então candidato à Presidência Fernando Haddad (PT). A reportagem ainda mostra que Dallagnol tinha dúvidas sobre a consistência das provas que incriminaram Lula no caso do tríplex.

Em nota, a força-tarefa de procuradores que atuam na Operação Lava Jato negou irregularidades na atuação do grupo , reforçou a ideia de que o trabalho é “imparcial” e acusou o site The Intercept de ter divulgado mensagens “fraudulentas e fora de contexto”. O ex-juiz Sergio Moro, por sua vez, reclamou que as conversas foram obtidas “por meios criminosos” e garantiu que os textos não apontam “anormalidade ou direcionamento”.

 

Da Redação 

Com iG

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