Um Rosto

Publicado em segunda-feira, maio 20, 2019 · Comentar 


Aprendi, quando criança, que Deus era meu amigo, tem mãos, tem ouvidos, está próximo e me acolhe e entende. Na celebração da nossa Primeira Eucaristia tudo nos levava a essa compreensão a começar pelos cânticos; cantamos assim: – “Segura as minhas mãos nas tuas mãos Senhor… me guia em meus caminhos, guia meus passos…” e “Agora que pão e vinho, já não são vinho nem pão, agora que com carinho vens te fazer refeição, vou te contar meu segredo Jesus…”

Lá na nossa Paróquia todos sabíamos que Jesus, tem uma identidade, tem um jeito de se comunicar, nos Sacramentos e na Palavra mas também nas pessoas, sobretudo nas pessoas mais sofridas, assim aprendemos que “seu nome é Jesus Cristo e passa fome, é analfabeto, dorme nas calçadas….” que “entre nós está.”

Até as estórias que os velhos nos contavam sobre Jesus, diziam que tivéssemos cuidado, pois o Senhor anda pelo mundo desfaçado de quem precisa, de quem tem precisão (carência).

Desse modo a fé, se baseia na certeza de que Deus, não é uma ideia, uma abstração; Papa Bento XVI disse: “no princípio da fé não está uma ideia, uma moral, está uma Pessoa, um encontro”. A resposta ritual da Missa – “Ele está no meio de nós” – é uma realidade, que implica um compromisso com o Ressuscitado, com Aquele que é Presença, para que Ele seja percebido, também depois que a celebração termina.

E tudo isso está no Evangelho e na nossa forma de rezar, posto que é uma realidade da própria Encarnação. Texto evangélico emblemático neste sentido é Mateus 25, conhecido como “Juízo final”, onde Jesus fala da reunião de todos os homens na presença de Deus, no fim do mundo, para uma sentença de acolhida ou de rejeição: “Venham benditos de meu Pai…” (…) “Afastem-se de mim malditos…” e nesta passagem o próprio Senhor está identificado com os sofredores que foram acolhidos pelos bem-aventurados ou descartados pelos que o Senhor chama de malditos.

Na liturgia eucarística não é difícil encontrar menções à preferência de Jesus pelos pequenos e à sua dupla Presença entre os crentes: no Sacramento e nas pessoas. A oração Eucarística X (das Crianças), por exemplo, assim se dirige ao Pai “louvado sejas em Jesus Cristo amigo das crianças e dos pobres”; a Oração Eucarística da Reconciliação 2 falando ao Pai sobre Jesus entre outras coisas diz: “Ele é vossa mão estendida aos pecadores” e, o Prefácio do Advento I-A:   “Agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu reino.”

É verdade, Deus tem um Rosto, uma fisionomia, é “O rosto da misericórdia” (Papa Francisco).

Estamos vivendo um momento difícil para a fé! Não é preciso ir muito longe para percebermos um distanciamento, de muitos que dizem crer, do Deus que tem Rosto, do Deus Jesus, que dá a vida pelos injustos; distância de Jesus e de sua face.

Quando Deus se torna um slogan, um nome (com minúsculo), uma abstração, é preciso estar atentos, pode ser somente um ídolo; o mesmo se diga sobre a Pátria, quando ela não tem rostos, tudo se torna possível, até o sacrifício dos cidadãos concretos de carne e osso que precisam de trabalho, escola, aposentadoria, saúde.

Precisamos voltar sempre ao que a Igreja ensina: “para entrar em comunhão com Cristo e contemplar o seu rosto, para reconhecer o rosto do Senhor no dos irmãos e nas vicissitudes de todos os dias, são necessárias “mãos inocentes e corações puros”. Mãos inocentes, isto é, existências iluminadas pela verdade do amor que vence a indiferença, a dúvida, a mentira e o egoísmo; e além disso, são necessários corações puros, corações arrebatados pela beleza divina, como diz a pequena Teresa de Lisieux na sua oração à Santa Face, corações que têm impresso o rosto de Cristo.” (Bento XVI, Santuário do Santo Volto de Manoppello, 01 de setembro de 2006).

Ó Jesus, que nesta vida pela fé eu vejo

Realiza, eu te suplico, este meu desejo

Ver-te, enfim, face a face, meu divino amigo

Lá no céu, eternamente, ser feliz contigo! (Hino Eucarístico)

Pe. Elias
Diocese de Guarabira

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