Ditador norte-coreano Kim Jong-un e Donald Trump protagonizam encontro histórico

Publicado em terça-feira, junho 12, 2018 · Comentar 


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, se reúnem no luxuoso hotel Capella, em Singapura, para uma reunião sem precedentes: devido aos seus protagonistas, à forma extravagante como as negociações prévias foram conduzidas e ao seu significado. Ambos chegaram ao local na noite desta segunda-feira – manhã de terça na Ásia – e cumprimentaram-se ante as bandeiras dos dois países num momento histórico envolto em grande expectativa global. “Nós vamos ter uma excelente relação”, disse Trump, que afirmou esperar um encontro “tremendamente exitoso”. Kim disse que havia obstáculos para a reunião, mas “nós o superamos e estamos aqui hoje”. O encontro que rompe o quase total isolamento internacional da Coreia do Norte cimenta o degelo em marcha, mas não elimina as graves dúvidas que rodeia o processo de desnuclearização do regime norte-coreano. O arsenal é o seguro de vida do regime norte-coreano e ainda está por se provar a real intenção de Pyongyang de se desfazer dele.

Após as fotos e com uma indicação com as mãos de Trump, os mandatários se dirigiram a uma sala reservada do hotel Capella na ilha de Sentosa. A programa prevê que os dois se reúnam a sós por 45 minutos. Depois, as comitivas diplomáticas devem se incorporar. Apenas às 16h locais – 5 da manhã de terça no Brasil – Trump prevê falar à imprensa.

Se as negociações fracassarem, todas as opções contra o regime norte-coreano voltarão ao tabuleiro. Se tiverem sucesso, começará um longo processo que – talvez, apenas talvez – levará ao desarmamento nuclear da Coreia do Norte. Um processo que pode durar mais de dez anos e custar bilhões de dólares. Poucos analistas acreditam que Pyongyang esteja verdadeiramente disposta a renunciar de maneira “completa, irreversível e verificável”, como exige Washington, a um programa nuclear ao qual tem dedicado décadas, recursos econômicos significativos e inúmeros sacrifícios de sua população. Se concordar, será em troca de concessões gigantescas. E, se o fizer, tudo pode ir por água abaixo: uma vez adquirido o conhecimento necessário, poderia recriá-lo sempre que quisesse. A Coreia do Norte conta com uma equipe de 200 especialistas, segundo cálculos dos serviços secretos da Coreia do Sul.

 

A Coreia do Norte “pagou um preço muito alto para conseguir uma força poderosa e confiável que permita nossa defesa”, destacou no mês passado sua vice-ministra de Relações Exteriores, Choe Son-hui.

Uma força considerável. De acordo com cálculos da Coreia do Sul, seu vizinho do norte destina 25% de seu orçamento, ou cerca de 10 bilhões de dólares por ano (36,8 bilhões de reais), para gastos militares. Os últimos testes de mísseis no ano passado, antes da moratória declarada unilateralmente, representaram um desembolso de cerca de 300 milhões de dólares (1,1 bilhão de reais).

Alguns especialistas estimam que a Coreia do Norte tenha entre 15 e 20 bombas nucleares. Esse número, segundo os serviços de inteligência dos EUA, pode chegar a 60. Essas armas têm um poder de destruição entre 10 e 25 quilotons, o equivalente às bombas atômicas que destruíram Hiroshima e Nagasaki em 1945. Em setembro do ano passado, Pyongyang completou seu sexto e até agora mais potente teste nuclear, uma bomba de hidrogênio de 100 a 250 quilotons de potência.

O plutônio e o urânio enriquecido necessários para essas armas são fabricados no Centro de Pesquisa Nuclear de Yongbyon. O especialista Sigfried Hecker estima que a Coreia do Norte tenha entre 20 e 40 quilos de plutônio e entre 175 e 645 quilos de urânio altamente enriquecido. O regime poderia produzir, segundo cálculos de especialistas, entre 30 e 60 bombas adicionais, entre três e sete a cada ano.

Para que essas bombas possam chegar a algum lugar, precisam de mísseis para transportá-las. O arsenal norte-coreano tem cerca de mil mísseis de diferentes alcances. Durante o mandato de Kim Jong-un, a Coreia do Norte completou quase cem testes, e que alcançaram um ritmo frenético no ano passado.

Depois de avançar nos últimos dois anos em um ritmo que surpreendeu especialistas, em julho e novembro do ano passado a Coreia do Norte testou com sucesso, pela primeira vez, mísseis intercontinentais capazes de atingir qualquer ponto do território norte-americano, como Kim teve o prazer de lembrar em seu primeiro discurso do ano. No entanto, não está comprovado que esses mísseis, quando carregados com uma ogiva nuclear, possam resistir sem se desintegrar em sua reentrada na atmosfera.

Entre todos os mísseis, a estrela é o Hwasong-15. Em seu teste de novembro — o último antes de a Coreia do Norte ter declarado unilateralmente uma moratória — atingiu uma altura de 4.475 quilômetros e percorreu uma distância de outros mil antes de cair no mar. Com esses dados, especialistas calcularam que poderia cobrir uma trajetória de 13.000 quilômetros.

Além disso, analistas acreditam que o país possua 200 mísseis Nodong, capazes de chegar ao Japão; 600 Scud, que podem alcançar a Coreia do Sul e parte do Japão, e pouco menos de 50 Taepodong e Musudan, que poderiam atacar Guam e partes da costa oeste dos EUA, segundo a organização Iniciativa de Ameaça Nuclear (NTI, na sigla em inglês).

Se criar este programa exigiu investimentos sem dimensões, livrar-se dele também não será barato. Um estudo realizado pela Universidade Kookmin, em Seul, estimou que os custos diretos e indiretos seriam de cerca de 20 bilhões de dólares (cerca de 73,7 bilhões de reais): 5 bilhões de dólares para o desmantelamento de bombas e instalações; outros 5 bilhões para a construção de dois reatores nucleares para produzir eletricidade, prometidos na época pelos Estados Unidos; e 10 bilhões de dólares para despesas indiretas, como reconstruir a economia norte-coreana e reconhecer técnicos nucleares em postos civis.

Outro relatório, do Centro para Segurança Internacional e Cooperação da Universidade de Stanford e assinado por Siegfried Hecker, estima que levará pelo menos uma década para concluir o processo. Isso, se não houver obstáculos. “A política pode atrasar a desnuclearização definitiva em até quinze anos”, destacou autor.

Pyongyang assegura que deu um primeiro passo ao dinamitar seu centro de testes em Punggye-ri, ao norte de seu território, embora o site especializado 38 North considere que os danos nas entradas dos túneis sejam limitados. “Embora os procedimentos realizados pelos norte-coreanos dificultem a reutilização do local no futuro, recuperar o acesso aos túneis de teste concluídos nas áreas sul e oeste ainda pode ser possível”, diz a análise.

Mesmo sem seu programa nuclear, o exército norte-coreano tem dimensões respeitáveis. Estima-se que, com 1,1 milhão de soldados – 5% da população -, seja o quarto do mundo (atrás da China, Índia e EUA). Centenas de mísseis no território norte-coreano apontam para a Coreia do Sul.

Segundo estimativas dos Ministérios de Defesa dos EUA e da Coreia do Sul, incluídas em um relatório do Conselho de Relações Exteriores (CFR) norte-americano, a Coreia do Norte tinha, entre 2015 e 2016, mais de 1.300 aeronaves, 300 helicópteros, 430 navios de combate, 250 navios anfíbios, 70 submarinos, 4.300 tanques, 2.500 veículos blindados e 5.500 lançadores múltiplos. Embora, de acordo com as estimativas de especialistas, uma boa parte desse equipamento seja obsoleta. Sanções internacionais impediram sua modernização.

Do El País Brasil

Comentários