As palestras de Lula, o porto de Cuba e a luta de classe

Publicado em sábado, outubro 28, 2017 · Comentar 


Ouvi – de relance – alguns argumentos do amigo pessoal, Geandro Ferreira, no programa Araçá em Debate deste sábado (28) na Rádio Araçá FM, a respeito do ex-presidente Lula, de suas palestras e da construção do Porto de Mariel em Cuba, o qual na visão do jovem estudante, teria sido construído pela empreiteira Odebrecht após palestra de Lula paga pela construtora, oportunidade em que teria usado sua influência para investir dinheiro brasileiro na ilha de Fidel.

Na visão de Geo, Lula teria sido pago pela empreiteira com recursos oriundos dos negócios da empresa com Cuba, financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), ou seja, teria feito lobby junto ao banco estatal para beneficiar a empreiteira e esta teria lhe retribuído ao lhe contratar para realizar palestra.

Em sua fala, Geo fez questão de lembrar que as palestras de Obama, ex-presidente dos EUA em nada se compara com as palestras feitas por Lula. Daí, me questiono: Obama viria ao Brasil defender os interesses de outro país se não o dos EUA? Viria mesmo ao Brasil dizer que aqui é o melhor lugar de se viver e que nossas empresas devem explorar o mercado americano? Claro que não. Da mesma forma, imaginar que Lula iria realizar palestras mundo afora para não vender a boa imagem do Brasil, o potencial das empresas brasileiras e os projetos que deram certo no Brasil seria um ledo engano.

As palestras tão criticadas ocorreram após Lula deixar a presidência, atentai bem, “após deixar a presidência”. Ora, o ex-presidente já não mantinha nenhum cargo público quando viajou com Odebrecht e não só viajou com a Odebrecht, mas para empresas de diversos setores.

Se realmente o Lula fez lobby para beneficiar Cuba e a construtora, como querem atestar, esquecem de dizer que a empreiteira tomou dinheiro do BNDES por empréstimo, atentai bem: por empréstimo, e não foi a única empresa a tocar a obra, a Quality – empresa cubana – também investiu.

E os benefícios? – o caro leitor pode me perguntar – eu respondo: dos 957 milhões de dólares investidos na obra, 682 milhões foram financiados pelo BNDES. Em contrapartida, 802 milhões de dólares foram gastos no Brasil, na compra de bens e serviços comprovadamente brasileiros. Pelos cálculos da Odebrecht, este valor gerou 156 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no País, portanto meu caro Geo, a obra “se pagou”.

O próprio BNDES afirma que, assim como as agências de exportação de crédito de outros países, o banco financia as exportações para criar empregos no Brasil e ajudar as empresas brasileiras a competir no exterior.

Some-se a isso o fato de que com o porto, o Brasil abriu um novo mercado para a exportação e na última década – após o porto, claro – quadruplicou chegando a 450 milhões de dólares, alçando o Brasil ao terceiro lugar na lista de parceiros da ilha (atrás de Venezuela e China).

O Jornal O Globo de 02 de março de 2014 em Editorial reconhece a importância da parceria Brasil/Cuba para a construção do porto de Mariel. Com o título “Investimento no Porto Mariel faz sentido”, O Globo defende o investimento, apesar de cobrar transparência nas negociações entre os dois governos. (Veja AQUI).

Portanto, meus caros leitores, criticar a ida de Lula a qualquer país para vender uma boa imagem do Brasil e de suas empresas é puro egoísmo, é apequenar o desenvolvimento do país a questões meramente ideológica e isso não entendo ser justo, até porque o antecessor de Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também tem um instituto que faz palestras pagas, inclusive pela Odebrecht, empresa que em seus oito anos de governo também recebeu dinheiro do BNDES para investimentos e intercâmbios com a própria Cuba e com à “Venezuela chavista”, quando no seu governo o BNDES emprestou US$ 107,5 milhões para a própria construtora Odebrecht abrir uma linha do metrô em Caracas, sob o governo de Hugo Chávez.

Argumentos são muitos para defender que um ex-presidente brasileiro possa realizar palestras para defender seu pais e suas empresas, mas acho que os expostos acima já foram suficientes para dizer que a condenação às palestras de Lula pagas pela Odebrecht ou qualquer outra empresa, nada mais é do que uma perseguição política insana por parte dos que se consideram nobres e puros. Esses não suportam se misturar e dividir o mesmo voo com a plebe, que entende que apenas uma classe pode e deve estar no mercado de trabalho ocupando os melhores cargos e oportunidades com carteira assinada, que entende que empregada doméstica não tem que ser tratada como igual e filho de pobre nos bancos das universidades disputando espaços de igual para igual com o filho do rico é um desaforo. Lula proporcionou tudo isso e muito mais aos brasileiros menos bastardos, aos nordestinos, aos excluídos… daí atraiu para si o ódio de classe e paga caro por isso…  Tenho dito!

Marcos Sales
Contato com a coluna: @Salles_Marcos
Email: marcosexpresso@live.com

 

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