Jornalista rebate Zezé de Camargo que defendeu a volta da ditadura: “Se o pau de arara fosse no seu c*, talvés você tivesse outra opinião”

Publicado em terça-feira, setembro 12, 2017 · Comentar 


Zezé Di Camargo afirmou em entrevista à jornalista Leda Nagle que não acredita que o Brasil tenha vivido uma ditadura militar entre os anos de 1964 e 1985.

“Eu vou falar um absurdo aqui para você, as pessoas vão me criticar, jornalistas vão falar de mim, achar que sou um maluco. (…) Muita gente confunde militarismo com ditadura, todo mundo fala ‘nós vivíamos numa ditadura’. Nós não vivíamos numa ditadura, nós vivíamos num militarismo vigiado”, disse.

O cantor, que faz dupla com o irmão, Luciano, continuou, explicando o que ele entende por ditadura. “Ditadura é a Venezuela, Cuba com Fidel Castro e até hoje vive, Hungria, Coreia do Norte, China, esses são realmente ditadores. O Chile com o Pinochet. A Argentina também viveu isso. O Brasil nunca chegou a ser uma ditadura daquelas que ou você está a favor ou você está morto.”

Leda lembrou que houve prisões, confrontos e tortura durante os 21 anos da ditadura militar, mas o sertanejo rebateu. “Mas não chegou a ser tão sangrenta, tão violenta”.

A fala de Zezé provocou reações diversas nas redes sociais. O jornalista e ex-colunista da Folha, Xico Sá, foi sucinto: “Se o pau-de-arara fosse no seu cu, Zezé, talvez você tivesse outra opinião”.

Atônitos com o posicionamento do cantor, muitos internautas seguiram o mesmo tom nas críticas.

“As calças tora-toba-quebra-côco que ele usa devem ter partido o cérebro dele em vários pedaços…”, ironizou um internauta.

“Alguém lembrou que o Zezé e seu irmão não conseguiram tocar em uma rádio porque a música fazia uma suposta crítica à ditadura militar. Essa passagem está no filme da dupla sertaneja que este rapaz atuava. Penso que, na falta de um refrão ou de um teleprompter, algumas pessoas tem dificuldade em concluir um raciocínio coerente”, escreveu outro.

Barbárie

Os registros e relatos de tortura durante a ditadura militar no Brasil comprovam o tamanho da barbárie promovida pelo regime de exceção.

De acordo com arquivos do próprio DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), os crimes cometidos pelo aparelho policial-militar da ditadura incluíram prisões ilegais, sequestros, torturas, lesões corporais, estupros e homicídios que, segundo estimativas da Procuradoria da República, vitimaram cerca de 30 mil cidadãos.

Os arquivos do DOPS se tornaram públicos em 1992, mas muitos documentos foram retirados pelos policiais quando estavam sob a guarda do então diretor da Polícia Federal e ex-diretor geral do DOPS, Romeu Tuma.

Entre os remanescentes estão os laudos periciais falsos, produzidos no próprio DOPS, que transformavam homicídios cometidos pelos agentes do Estado em suicídios, atropelamentos, fugas. No caso dos desaparecidos, os corpos eram enterrados sob nomes falsos em valas de indigentes em cemitérios de periferia.

Uma das milhares de vítimas da ditadura militar, Amelinha Teles relembrou recentemente os momentos de terror que viveu nas mãos dos militares.

“Levaram meus filhos para uma sala, onde eu me encontrava na cadeira do dragão (instrumento de tortura utilizado na ditadura militar parecido com uma cadeira em que a pessoa era colocada sentada e tinha os pulsos amarrados e sofria choques em diversas com fios elétricos atados em diversas partes do corpo) , nua, vomitada, urinada, e meus filhos foram levados para me ver assim. O que é isto? Para mim, foi a pior tortura que eu passei. Meus filhos tinham 5 e 4 anos. Foi a pior tortura que eu passei”

Violência sexual

Muitas vítimas fatais da ditadura foram submetidas a violência sexual antes de desaparecer ou de ser assassinadas. Emmanuel Bezerra dos Santos é um desses casos. Em 1973, segundo denúncia feita por outros presos políticos, antes de ser morto sob tortura, no DOI-Codi de Sao Paulo,o jovem de 26 anos teve seu pênis e testículos arrancados, junto com dedos e umbigo.

Conforme relato de Inês Etienne Romeu, sobrevivente da Casa da Morte, em Petrópolis, antes de sumir, em julho de 1971, Heleny Ferreira Telles Guariba também sofreu violência sexual. Foi torturada durante três dias, “inclusive com choques elétricos na vagina”.

Anatália de Souza Melo Alves teve seus órgãos genitais queimados, antes de sua morte, em janeiro de 1973, no local em que funcionava a Seção de Comissariado da Delegacia de Segurança Social da Secretaria de Estado dos Negócios de Segurança Publica, em Pernambuco.

Os registros da prática de violência sexual por agentes públicos indicam que ela ocorria de forma disseminada em praticamente toda a estrutura repressiva. Nos testemunhos analisados pelo grupo de trabalho “Ditadura e Gênero” são citados Deic, DOI-Codi, Dops, Base Aérea do Galeão, batalhões da Polícia do Exército, Casa da Morte (Petrópolis), Cenimar, Cisa, delegacias de policia, Oban, hospitais militares, presídios e quartéis.

Eram constantes as ameaças de caráter sexual ou de gênero e suas práticas. Há ainda registros de introdução de objetos (principalmente fios elétricos) ou animais na vagina ou ânus dos presos políticos, utilização de presilhas nos órgãos genitais e casos em que o pênis foi amarrado para impedir a vítima de urinar.

Da Redação 
Com Pragmatismo Político

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