Princesa vista lá fora (2)

Publicado em sábado, janeiro 28, 2017 · Comentar 


Como vimos anteriormente, os despachos telegráficos do secretário José Américo de Almeida designavam de cangaceiros as tropas formadas pelos rebeldes do coronel José Pereira. Raramente o tratamento de “bandidos” era esquecido quando a referência era dirigida aos comandados do soba princesence. Há exemplo publicado: “Comunicam de Piancó que o acampamento do tenente Mauricio foi atacado fortemente pelos “pereristas”, repelidos com perdas.”(Diário de Notícias,Rio,8.06.1930)

O jornal da capital federal também refletiu em suas  páginas memorial de proprietários rurais sertanejos, aflitos com a ação de cangaceiros, não distinguidos dos rebeldes pereristas. O presidente João Pessoa recebeu  assinado por Vicente Leitão o seguinte despacho telegráfico: “ Levo ao conhecimento de v.ex. que um grupo de setenta cangaceiros há três dias que vem praticando neste município toda sorte de depredações. Na estrada de rodagem que liga esta cidade a Malta acabam elles de incendiar minhas propriedades e de outros amigos nos lugares Baudarra, Padrinho e Várzea Redonda.Hoje esse grupo se acha acampado em Ipueira na casa de Dondon Dantas.A população está preparada para a defesa.Confiamos em que tome enérgicas providências o intemorato governo de v.ex. Saudações”.

“A impaciência das tropas para acabar de vez com a revollta de Princeza” como mandou dizer ao Presidente João Pessoa o Sr. José Américo, exigia uma ação mais efetiva. A nossa polícia tentava avançar em um campo minado pelo conhecimento dos pereristas, recrutados nas terras áridas do sertão. As emboscadas sucediam-se e as perdas de vidas humanas aumentavam as estatísticas. Um mecânico chamado João  Barros inventou uma máquina de “reenchimento de cartuchos já deflagados offerecendo-a ao governo do estado”. Para quem estava a padecer de armamento e tinha dificuldade em importar munição, foi um achado. Imaginou-se, ainda, atacar a cidadela do coronel Pereira pelo ar.  O Diário de Noticias publicou o fato como auspicioso aos que queriam o fim do estado de guerra.”Recife-Comunicam de Piancó que o avião Garoto, tripulado pelo aviador Roland que como se sabe fugiu do campo do Ibura, desta cidade, tomando o rumo da Pahyba recebendo ali grande quantidade de explosivos estando prompto para voar sobre Princeza. Afirma-se que o aviador Roland procederá dentro  de alguma horas , ao bombardeio daquela cidade, quartel general das força do coronel Jose Pereira”. O coronel, por outro lado, tomou conhecimento dos preparativos para bombardear sua cidade e preparou os melhores atiradores para alvejar “o apparelho que voa”.O jornal do Comercio do Recife, repercutiu também essa notícia.

Havia uma guerra também de contra-informação. Outro despacho telegráfico divulgado no DN, servia para tranqüilizar os pereristas: “Recife- Segundo as noticias que corem aqui, o avião Garoto retirado do campo de Ibura pelo aviador Reynaldo Gonçalves, tendo partido de Piancó não foi visto sobre Princeza,nem voltou ao ponto de partida.Presume-se o apparelho ter soffrido qualquer desarranjo”. Note-se que o nome do piloto já mudou. Há noticia de que o aviador, que era estrangeiro, teria falecido em Piancó, onde ficou para sempre. A verdade é que Princesa nunca foi bombardeada, a não ser, com panfletos, apelando para o  rendimento dos seguidores de José Pereira.

Enquanto esse cenário permanecia indefinido e só teria desfecho após a morte de João Pessoa, na capital federal havia outra preocupação maior, como indicam os destaques jornalísticos. As misses de Minas Gerais e da Paraíba estavam atrasadas para a apresentação no Concurso Internacional de Beleza. Os representantes dos dois estados pediram prazo para permitir a presença das duas distintas senhoritas. Prazo negado, os dois  ficaram fora do concurso e os juízes Nóbrega da Cunha e Manoel Henriques da Silva, representantes desses estados  perderam seus mandatos na comissão julgadora. Não duvido nada que esse primeiro entrevero que uniu Minas à Paraíba tenha servido também de alicerce para a futura Aliança Liberal. O Rio Grande, terceiro estado aliancista, este chefiado por Getúlio Vargas, todavia, seguia tranqüilo, com sua miss, Yolanda Pereira, sendo recebida festivamente no Cassino Beira Mar.  ( Nas transcrições mantive a grafia da época).

Ramalho Leite
Jornalista/Ex-Deputado – Colunista

 

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